Artigo: Memórias do Cumaú - Por Cleber Silva

Maquete do Forte Cumaú, produzida sob coordenação de Manuel Calado. Parte da Exposição “Cumaú: a Fortaleza do Igarapé”, no espaço Casa de Vidro do Museu Sacaca. (SALDANHA et al, 2013, P. 172)




O Cumaú foi um Forte construído pelos ingleses no século XVII, situado a margem direita da foz do igarapé da fortaleza em frente à Ilha de Santana, no município de Santana, com objetivo de construção de uma feitoria permanente.  O projeto foi abortado pela política de proteção de territórios ultramarinos português, com a tomada do Cumaú por estes foi construída outra Fortificação batizada de Forte Santo Antonio de Macapá, nome pouco conhecido e que não afetou as memórias do Cumaú

Como considera Bosi (1996), a memória possui a função social de se reproduzir para gerar outras experiênciais e vivências, ou seja, a história deve reproduzir-se de geração em geração, gerar muitas outras, cujos os fios se cruzem, prolongando o original, puxados por outros dedos. É neste sentindo que as memórias sobre o Forte Cumaú são geradas a partir da formação daquele povoado as margens do igarapé da Fortaleza.

De acordo com os moradores mais antigos daquela comunidade, o processo de expansão começa em torno da Serraria do Sr. Celestino Pinheiro, “o Pinheirinho”. Assim os moradores começaram a construir suas moradias em torno da serraria, e com o término da exportação de madeira, seu Pinheirinho vendeu a serraria, loteou seus terrenos, vendendo e doando os lotes, muitos para seus funcionários, e estes por sua vez deram aos seus filhos e netos.

Joaquim Coutinho um dos primeiros moradores do bairro detalha assim esse processo: “isso aqui não existia estrada, depois que fizeram uma estrada pra ir pra serraria do lado de lá, que passava bem na ilharga do Cumaú”. Com o processo de expansão da comunidade muitos moradores passam a conviver com as belezas do Forte Cumaú, um lugar de livre acesso em épocas passadas, que hoje vive cercado pelos muros da propriedade privada. Como nos relata Raimundo Alves, morador antigo do bairro Igarapé da Fortaleza, “o Forte Cumaú era uma fortaleza completa, perfeitinha, igual aquela de Macapá, só tinha que ela era pequena, era menor, mas com todos aqueles requisitos e aparatos”.

Seu José Lobato, um dos grandes responsáveis pelo processo de valorização do Forte Cumaú como patrimônio histórico e cultural nos revela com detalhes as paisagens que tornavam aquele lugar encantador que posteriormente foi sendo depredado, “Eles tomavam banho ali, era um balneário, eles usavam aquilo como lazer, mas não tinham assim na mente um valor histórico que tinha aquilo, (...) então é assim, quando eu chequei aqui ainda dava pra ver que era realmente uma fortificação, mas foi quebrada, essa historia toda foi quebrada”.

O Forte Cumaú desperta na comunidade um lugar de memórias para o lazer de seus moradores, um local em que famílias destinavam-se aos finais de semana para tomar banho em meio as belezas do rio Amazonas e aos vestígios arqueológicos, sendo que não faziam idéia da imensa riqueza histórica e cultural que aquele local possuía.

Atualmente apesar de os sítios arqueológicos estarem protegidos pela lei proteção de sítios arqueológicos (Lei n° 3924/1961), a área que se encontram os vestígios do Forte Cumaú estão sob domínio de uma propriedade privada, um dilema que atinge a todos que estão interessados naquele processo de valorização do lugar. Conforme Le Goff (1990) é fundamental entender os problemas da história e do tempo, ele nos diz que a memória ora está em retraimento, ora em transbordamento.

O exemplo do Forte Cumaú aproximasse do pensamento de Le Goff, o retraimento das memórias do Cumaú, acontecem no momento em que há um fechamento da área do Forte, o transbordamento acontece quando aqueles que vivenciaram, expõem suas experiências de convivência com o Forte, com relatos de que como viram essas transformações da área.

Recontar as histórias dos lugares através de um novo olhar é uma tarefa infinitamente complexa, cada um tem do mesmo fato, uma memória diferente, um olhar novo, pois todas as coisas possuem múltiplas representações. A história do Forte Cumaú passa pelas inúmeras representações que as pessoas construíram acerca daquele local, uma área de lazer e entretenimento para os antigos, uma parte da história do Amapá para os jovens estudantes, um local de pesquisas para os arqueólogos e historiadores; enfim o Cumaú para os que os tratam de forma carinhosa, como um local de memórias e singularidades nas terras de Sant’Ana.


Artigo extraído da Tese de Conclusão de Curso em História na Universidade Federal do Amapá- UNIFAP, “Forte Cumaú: memórias, dilemas e narrativas para o processo de valorização na comunidade do Igarapé da Fortaleza”, pelos acadêmicos Cleber Silva e Maria Rita Monte.
Cleber Silva é Bacharel em História pela Universidade Federal do Amapá-UNIFAP, Conselheiro de Cultura Popular e Afrodescendente no Município de Santana



Comentários

  1. Fiquei maravilhada em saber a história do Camaú. Quiça o nosso Instituto Memorial Amapá, possa resgatar este forte ,para fazer parte do nosso Patrimonio Cultural do Amapá. Seria também mais um lugar turismo para aproveitarmos a sua beleza antiga.

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