O valor do pavilhão de uma escola de samba.

Foto: Cézar Palheta

Por *Dicá

Muitas vezes nos deparamos com a máxima de que o mais importante numa escola de samba é o pavilhão!
E o que é o pavilhão senão o símbolo que representa a história de uma comunidade, de suas glórias, seu trabalhos, tradições e frustrações. No fundo representa a sobrevivência de uma história de sonhos!
Desenhado, costurado, bordado e hasteado aos quatro ventos, representa sempre uma história apaixonante. Alguns pavilhões têm amores e paixões declarados aos brados exaustivamente, ou mesmo guardados no íntimo de abnegados admiradores.
Às vezes esses amores e paixões ficam recolhidos por inúmeros motivos, que ninguém ousa desvendar. Guardam paixões inquestionáveis, fundidas em histórias de vidas dedicadas anos a fio...
Brilham e bailam nas mãos das nossas portas-bandeiras, protegidas por seus guardiões...
Os mestres-salas, que num minueto fenomenal nos encantam tal qual um beija flor encanta e mostra a sua flor, seja nos ensaios nas quadras, nos terreiros, nas ruas, nas avenidas ou nos desfiles principais, sempre com a mesma galhardia e brilho. 

Os pavilhões resumem histórias de glória, de muitos amores, de choros, de raiva e infelizmente de ódio. Isso muitas vezes é decorrente das incompreensões entre os vaidosos sambistas, ou mesmo à falta de humanidade dentro da hierarquia que os regem.

É sabido que no fundo o amor por um pavilhão não morre jamais, fica hasteado em nossas retinas ou guardado em nossos corações. E mesmo distante e com todo desgaste decorrente da relação com a escola; aos sambistas muitas vezes é ofertado no momento da despedida final, pois sempre tem aqueles que reconhecem a magia dessa estreita relação. 

Às vezes, quando o pavilhão passa à nossa frente, sorrateiramente nossos olhos lacrimejam de emoção seja na tristeza ou na alegria. Podemos estar "de mal com a escola" com um dirigente, uma administração equivocada ou mesmo por um equívoco de nossa parte estar distantes ou mesmo de mal da escola, isso acontece e como... Mais nunca, de forma alguma, esse mal chega até o pavilhão!

As crianças que são a renovação natural dos velhos sambistas, vão se apaixonando e fazendo parte dessa engrenagem substitutiva, numa "seqüência impressionante"...

É esse o amor de que falo e que faz meus olhos encherem de lágrimas... É esse o amor que arrebata desde crianças até a velha guarda e assim vai construindo a história de uma escola de samba e suas glórias, alegrias, tristezas e tradições.

Mas é bom termos em mente sempre que tudo isso somente é possível e verdadeiro se priorizarmos o respeito da relação com o grande projeto de Deus...

O ser humano! Portanto, somente é possível ser tocado pela grandeza de um pavilhão quando conhecemos a história das pessoas que com dignidade e nobreza teceram os seus primeiros fios e de todas as outras pessoas que ao longo do tempo vão retocando sua história com outros fios... Os fios da abnegação, do respeito e do amor, deixando o seu bailar sempre vivo... 

Para os sambistas apaixonados, sei que o que escrevo agora causa estranheza, porém quando alguém lhe disser que é PAVILHÃO, tenham respeito por elas, pois essas pessoas são o pavilhão vivo!

A defesa natural, sem interesses. Sem elas o que chamamos de pavilhão não passa de um mero objeto, um pedaço de pano guardado ao longo do tempo...
*Dicá - Ativista negro, embaixador e cidadão samba paulistano de 2004, é compositor, batuqueiro, passista e fundador da Velha Guarda da Rosas de Ouro de Vila Brasilândia, junto com a embaixatriz do samba Maria Helena. É pesquisador cultural e estudioso da cultura popular brasileira e afrodescendente.

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